Apesar de tudo isso, todos os docentes e funcionários deste estabelecimento de ensino dão o seu melhor em prol dos principais interessados: os alunos do concelho do Nordeste. Quantas vezes, já altas horas da noite, cabeceando com sono, se continua a corrigir trabalhos e testes e a preparar material pedagógico - didáctico de modo a enriquecer a componente lectiva? Quantas vezes se adquire material diverso com o próprio dinheiro para, por exemplo, imprimir os documentos adequados porque a escola não possui tinteiros? Quantas vezes se abdica do tempo livre porque determinado aluno precisa de apoio necessário à sua aprendizagem? Quantas vezes a família não é relegada para segundo plano para que se possa levar a cabo um trabalho adequado junto dos alunos? Quantas vezes a distância mão é vencida pelos docentes desta casa para que os nossos alunos possam desenvolver as suas competências? E valerá a pena todo esse trabalho? Alguém agradece? De facto, num momento em que os pais, devido aos seus compromissos profissionais, e a sociedade em geral necessitam tanto dos professores para que os seus filhos possam permanecer na escola ao longo do dia, é curioso verificar a forma ultrajante como alguns pais e filhos e a própria tutela tratam seres humanos qualificados dispostos a tudo pelos mais jovens, alguns destes cada vez mais esquecidos por uma família cada vez mais alheia aos seus deveres educativos.
Assim sendo, por que razão não se limitará o professor a arrumar a sua mala pejada de livros e papéis num canto do seu quarto e a improvisar no dia seguinte? Por que motivo insiste em planificar descritivamente todas as suas aulas, se não apreciam o seu trabalho? Se não o apoiam? Se não o respeitam? Se depreciam de todas as maneiras e feitios o seu labor diário? Se o pretendem avaliar da forma mais indigna, injusta e humilhante e quando essa avaliação, nos moldes definidos, não resultará em nada? Na verdade, apesar desta falta de respeito pelos profissionais que trabalham com aqueles que serão as mais-valias num futuro próximo, tudo é feito pelos alunos.
É de realçar, também, que os discentes dos nossos dias são muito mais exigentes do que nós o éramos quando estudantes. Realmente, quando passámos pelos bancos da escola, não nos atrevíamos a criticar sequer, mesmo que alguma coisa não estivesse tão bem, com medo de represálias. Actualmente já nada é assim! Antigamente, como sabemos, os professores exigiam que os alunos trabalhassem afincadamente, sofrendo estes, não raras vezes, agressões físicas e psicológicas. E ainda assim os relembramos com amor e carinho e os saudamos quando passam na rua. Até nos rimos das nossas diabruras e dos castigos que nos eram infligidos pelos docentes da época! Hoje em dia são os próprios alunos que exigem ao professor que se entregue de corpo e alma às respectivas turmas, sendo castigado psicologicamente e, por vezes, até fisicamente, pretendendo-se que o docente (hoje mero funcionário) seja avaliado, por exemplo, pelas classificações obtidas pelos alunos! Nesta linha, não nos podemos esquecer que, mais grave do que reter um aluno porque não desenvolveu as competências em momento oportuno, é ratificar inadequadamente a sua avaliação, possibilitando a sua transição para o ano lectivo seguinte sem ter desenvolvido as respectivas competências disciplinares.
Ainda assim, desprezados pela tutela e por uma boa parte dos encarregados de educação, com pouquíssimas condições que permitam a execução de um trabalho didáctico de acordo com as exigências da sociedade actual, todos os docentes que trabalham nesta terra sopram a plenos pulmões as velas das competências dos alunos para que estes possam alcançar horizontes longínquos no mar da nossa sociedade cada vez mais revolto!
Concluindo, esperemos, fervorosamente, que amanhã o sol raie rutilante e esplendoroso não só no Nordeste, mas em todo o país!
Adelino Martins
Professor