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quarta-feira, 5 de março de 2008

POTÊNCIA E ACTO

Sem atentarmos na subtileza e na complexidade desses conceitos, importa reter (...) que o acto ( ou actualidade) é a realidade do ser, a actualização de uma potência prévia, mas nõ de uma potência qualquer. Um homem não é potencialmente uma vaca, mas uma criança é pontencialmente um homem.
A mudança é a passagem da potência ao acto.
Na Mensagem, Viriato não é ainda a realidade do ser, mas sua potência. É o ainda não do Ser português ( " a fria / Luz que precede a madrugada"), mas também o no entanto já que o potencia, que o deixa prever, que o faz advinhar ( " E é já o ir a haver o dia").
Do mesmo modo, D. Dinis é " o plantador de naus a haver" e a " fala dos pinhais, marulho obscuro" é " o som presente desse mar futuro", tornando-se ainda mais explícido aquilo que o poema potencia: os pinheiros são virtualmente naus e no seu ondular invisível deixam já advinhar a aventura marítima.
Já Nuno Álvares Pereira pode ser um bom exemplo do estar em acto, no sentido neoplatónico do termo, pois corresponde à perfeição dinâmica de uma realidade; não é movimento nem mudança, mas a fonte duradoura de todo o movimento e de toda a mudança. é, por isso, um arquétipo a imitar:

Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
Vista no seu conjunto, a Mensagem, corroborando uma ideia de José Augusto Seabra, pode ser entendida como à essência da Pátria, como potência que ainda não se transfigurou em acto.
Finalmente, importa ter em conta que as profecias, os anúncios e os avisos representem diferentes graus da explicitação progressiva da potencialidade do Ser nacional.
Antemanhã
símbolos de todas as possibilidades, prenúncio de todas as promessas, a antemanhã encerra a ideia de recomeço do mundo.
Símbolo de luz, é também a expressão da plenitude entendida como possível e, por isso mesmo, ligada à ideia de esperança, de redenção e de vitória.
Na Mensagem, ligada a Viriato, ela simboliza um pouco tudo isso, todavia canalizada para o plano do Ser nacional, ou seja, para aquilo que nos caracteriza como povo. Figuração do ainda noite e já o dia, do não-Ser e do Ser-em-promessa, a antemanhã actualiza-se, em cada revisitação, como possibilidade de passagem das trevas da luz.
Catarina Carreiro

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