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terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Sobre o Acordo Ortográfico...




É provável que o meu caro leitor já tenha ouvido dizer, de uma forma ou de outra, que a Língua Portuguesa vai ser alvo de uma série de alterações delineadas pelo Instituto Camões e pelos Ministérios da Cultura, da Educação e dos Negócios Estrangeiros. De facto, o projecto de unificação da ortografia portuguesa é um assunto de âmbito internacional.
O Acordo Ortográfico envolve a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.
Na prática, o Acordo dita que:
  • O alfabeto português passa oficialmente a ser constituído por 26 letras, com a adição do k (capa ou ), do w (dábliu) e do y (ípsilon), com larga aplicação por terras africanas;
  • Palavras paroxítonas (o.m.q. graves) que sejam acentuadas, como jibóia ou heróico, perderão o acento, grafando-se agora jiboia e heroico, respectivamente;
  • As regras do hífen também vão mudar: extra-escolar transforma-se em extraescolar, anti-semita torna-se antissemita, anti-religioso fica antirreligioso…, ao passo que todas as palavras compostas onde se encontrem duas consoantes seguidas começam a carecer de hífen: microondas e infraaxilar adoptam o "tracinho" entre o prefixo e o radical (ao invé de micro-ondas e infra-axilar;
  • Prescindem-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas com a terminação -em da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo (conforme os casos: creem, deem, leem, preveem, releem, reveem, veem), e do acento de palavras como pêlo (fica apenas pelo), pólo (alterado para polo);
  • Entre nós a alteração mais significativa será mesmo a eliminação das consoantes que não são pronunciadas, escrever-se-á como no português brasileiro: ação, didático, ótimo, batismo,etc.…
  • No Brasil, o trema deixa de existir, abandonando as palavras freqüente, seqüestro...

Este Acordo deriva do facto de a Língua Portuguesa ser o único idioma ocidental com mais que uma ortografia oficial, pondo dificuldades à comunicação internacional.

Os defensores deste polémico documento, atribuem-lhe vantagens de índole social, cultural, política e económica: as difusões bibliográfica e tecnológica serão beneficiadas, a aprendizagem do português é simplificada, os actuais gastos com dicionários, livros e material escolar de deferentes versões linguísticas são suprimidos e, esperançosamente, o português expandir-se-á.

Contra estes argumentos insurgem-se outros da bancada oposta: a dispendiosa reedição dos manuais educativos e reciclagem dos docentes não será compensadas por esta unificação de divergências ortográficas que, aliás, já haviam sido compreendidas e ultrapassadas. Afirmam os mais intransigentes que as diferenças linguísticas entre países da CPLP podem ser comparadas aos regionalismos do território nacional, que até enriquecem a língua… Insinua-se mesmo que hajam apenas interesses do Brasil no mercado africano.
Quanto a mim, procuro acatar com naturalidade estas mudanças, uma vez que, afinal das contas, a Língua “vive” em evolução. Por outro lado, os 10 milhões de “luso-falantes” portugueses que vivem na Europa estão contra 200 milhões nos demais continentes. Seja como for, temos 10 anos para nos habituarmos! Deixo para reflexão um trecho de Alexandre Fontes, que achei pertinente. Até à próxima!
"Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (…) Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que haveriamos de ser obrigados a escrever assim!"


Ângela Silva

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