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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Fernando Pessoa

Num dia em que estávamos a estudar na biblioteca a senhora Fernanda quis contribuir para o nosso trabalho e forneceu-nos esse pequeno texto que me despertou algum interesse


"Eis um convite que aqui trazemos. Convite para a aventura apaixonante de ler a poesia de Fernando Pessoa, mas como se penetrando num continente surpreendente e misterioso. Convite para a navegação nos labirintos da sua personalidade múltipla, profunda e enigmática. Convite para a descoberta da fugidia unidade que se esconde por detrás das mascaras dos heterónimos. Convite para que cada um de vós, leitores, encontre a sua pessoal resposta para aquelas interrogações: porque foi este homem discreto, obscuro e sem títulos, este e não outro, de entre os Portugueses do século XX, escritores, artistas e cientistas, catedráticos, generais e políticos, o escolhido para representar o espírito português no mundo? E, mais do que isso, talvez o escolhido(pela eleição natural do génio)para representara grande crise de identidade do homem moderno, dividido entre a força atávica ou subconsciente das suas raízes e tradições espirituais e a fragilidade da sua moderna estrutura intelectual, psicológica e moral, estilhaçada pela perde dos antigos valores e contudo incerta perante as ideias e as ideologias que se reclamam do futuro mas suscitam também reservas e incertezas.
Os citados críticos franceses, deslumbrados pelos sinais mais exteriores e espectaculares da personalidade literária de Fernando Pessoa, insistiram sobretudo nos aspectos inovadores e modernistas da sua obra, na questão intrigante dos heterónimos ou na inteligência prodigiosa de todos os seus escritos. Se ficássemos por aqui, no entanto, pouco avançaríamos no conhecimento da poética pessoana.
É que se Pessoa foi um inovador, foi também um expressor de princípios e arquétipos que transcendem as categorias do tempo; se foi um moderno e um modernista, foi também um incansável pesquisador e assuntor do tradicional, do secreto, do mítico, do enigmático, do que se perdeu ou esqueceu e contudo está vivo, porque é talvez perene na cultura portuguesa e universal mais profunda; se, com a invenção dos heterónimos, exprimiu como ninguém a cisão psicológica e espiritual da alma humana, através da sua própria alma, conflitualmente dividida em estratos sobrepostos, ao mesmo tempo nunca deixou de perseguir o nódulo interior ou o princípio de unidade, orientador da reconvergência possível, como telos ou fim último da gesta humana neste mundo de geração e de corrupção;e se a sua fulgurante inteligência analítica dá por vezes impressão de sofística ou dialéctica (tal a facilidade com que manipula os conceitos mais difíceis) há sempre nela, ao mesmo tempo, uma sinceridade, uma autenticidade, um pathos de sofrimento, de angústia."


João Fagundo

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