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sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Entrevista a Alberto Caeiro















O que é ser heterónimo de Pessoa?

É fazer parte de um todo que é uno e múltiplo. É ser poeta, ser sensível, criativo. Ver o mundo de uma forma muito própria e especial, como quem é capaz de se multiplicar a si próprio.

Como é o seu processo criativo?

Recuso pensar. Deixo-me levar pelas sensações em plena comunhão com a natureza. Vivo a simplicidade.
Não me importo com as rimas. Raras vezes...
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra. Penso e escrevo como as flores têm cor, mas com menos perfeição no meu modo de
me exprimir
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.

Como pensa em Deus?

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...

Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!

Dizem que o senhor recusa o pensamento metafísico e compreende o mundo através das emoções. Como é sentir o mundo dessa forma?

Pensar é estar doente dos olhos. É muito melhor sentir.

Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Existe algum mistério no Universo?

O único mistério do Universo é o mais e não o menos.
Percebemos demais as coisas — eis o erro, a dúvida.
O que existe transcende para mim o que julgo que existe.
A Realidade é apenas real e não pensada.

O que pensa sobre a morte?

Creio que irei morrer.
Mas o sentido de morrer não me move,
Lembro-me que morrer não deve ter sentido.

O que têm os seus versos de novo?


Todos amam as flores por serem belas, mas eu sou diferente,
E todos amam as árvores por serem verdes e darem sombra, mas eu não.
Eu amo as flores por serem flores, directamente.
Eu amo as árvores por serem árvores, sem o meu pensamento.

O que é pensar para si?

Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo.

Escolheu ser poeta ou a poesia surgiu naturalmente na sua vida?

Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho.





João Fagundo nº 12

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